Toxoplasmose na gravidez: riscos, tratamento e prevenção
A toxoplasmose, também conhecida como doença do gato, é uma doença infecciosa muito comum em países tropicais, causada pelo parasita intracelular obrigatório Toxoplasma gondii. Ainda que a maioria dos casos não manifeste sintomas, a infecção está associada à grande morbidade durante a gestação.
A soroprevalência da infecção pelo Toxoplasma gondii é variável e, em algumas regiões do Brasil, pode atingir 65% da população. Não existem dados nacionais sobre a incidência da toxoplasmose na gravidez, mas estima-se que a prevalência da infecção congênita varie de 0,1 a 0,3 por 1.000 nascidos vivos.
Como ocorre a contaminação
A contaminação da toxoplasmose pode ocorrer através da ingestão de quistos presentes na carne crua (ou mal cozida) proveniente de animais infectados ou pelo contato direto com fezes de gatos contaminadas, do solo, da areia ou de latas de lixo.
Embora seja uma doença contagiosa, a toxoplasmose não se transmite de pessoa para pessoa – com exceção das infecções intrauterinas.
Quando uma gestante apresenta infecção aguda durante a gravidez, os parasitas podem infectar e se multiplicar na placenta, chegando à circulação fetal, conforme aborda Isabella Albuquerque, ginecologista e obstetra da Pineapple Medicina Integrativa. No início da gravidez a infecção é menos frequente, mas pode trazer complicações graves ao bebê.
Sintomas de toxoplasmose na gravidez
A maioria dos casos de toxoplasmose é assintomática ou apresenta sintomas inespecíficos, confundindo, principalmente, com sinais comuns de outras doenças, como gripe, dengue, citomegalovírus e mononucleose infecciosa, segundo o protocolo de notificação e investigação de toxoplasmose gestacional e congênita, do Ministério da Saúde.
Segundo Albuquerque e Silvana Chedid Grieco, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês e obstetra, os sintomas que podem se manifestar incluem:
- Febre
- Mal-estar
- Dor pelo corpo
- Dor de cabeça
- Gânglios aumentados
- Rash cutâneo (erupções cutâneas vermelhas).
Riscos da toxoplasmose para o bebê
A toxoplasmose é uma doença de natureza grave quando transmitida para o feto durante a gestação. O risco de infecção fetal e a gravidade do acometimento estão relacionados à idade gestacional na infecção aguda materna.
O período entre 10 e 24 semanas é considerado de maior risco para o feto, com maior probabilidade de complicações, de acordo com Isabella Albuquerque. “À medida que a gravidez evolui, o risco de transmissão aumenta, mas as lesões na criança costumam ser menos agressivas”, explica a ginecologista.
Segundo Albuquerque e Chedid, às alterações fetais incluem:
- Microcefalia
- Calcificações intracranianas
- Cardiomegalia (coração grande)
- Hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e baço)
- Ascite (“barriga d’água”)
- Catarata
- Hidropsia
- Alterações cerebrais e neurológicas
- Alterações intestinais.
“O quadro clínico é encontrado em um terço dos casos e a ausência de alterações ultrassonográficas não exclui a doença”, acrescenta Silvana Chedid.
Diagnóstico de toxoplasmose na gravidez
O diagnóstico depende da realização da sorologia para a infecção durante o pré-natal. Ele é realizado com os testes sorológicos para a detecção de IgG e IgM contra Toxoplasma gondii. De acordo com os resultados, é possível encontrar:
- Gestantes suscetíveis (IgM e IgG negativos)
- Gestantes imunes (IgG positivo e IgM negativo)
- Gestantes com infecção aguda ou crônica (IgM positivo e IgG negativo).
Além dos exames de sangue, a transmissão vertical transplacentária é confirmada pela realização de amniocentese (punção para retirada de líquido amniótico) entre 17 e 32 semanas, realizando-se a pesquisa do DNA do toxoplasma por PCR no líquido amniótico, conforme explica Silvana Chedid.
“A amniocentese está indicada em todos os casos de soroconversão materna ou sinais ultrassonográficos de infecção fetal”, acrescenta.
Tratamento de toxoplasmose na gravidez
Para as gestantes com quadro agudo de toxoplasmose, o uso da espiramicina de forma profilática pode reduzir em até 50% a transmissão fetal. Para gestantes suscetíveis com quadro clínico sugestivo de doença aguda, o medicamento deve ser introduzido até o diagnóstico. Caso a possibilidade seja descartada, a profilaxia pode ser suspensa.
Porém, caso a infecção fetal seja confirmada, Albuquerque esclarece que o tratamento deve ser iniciado com a administração de três medicamentos e mantido até o parto. São eles:
- Sulfadiazina
- Pirimetamina
- Ácido folínico.
O tratamento é contraindicado no primeiro trimestre, devendo ser iniciado a partir de 15 semanas.
“Em relação ao acompanhamento fetal, deve ser realizado com controle, com ultrassom periódico, para pesquisa de alterações fetais, além da avaliação da vitalidade fetal de forma semanal”, explica a ginecologista e obstetra.
Sequelas da toxoplasmose para o bebê
A maioria dos recém-nascidos não manifesta sintomas. Contudo, é possível encontrar alterações como retinocoroidite, hidrocefalia e calcificações intracranianas já no nascimento em 10% dos casos, segundo Albuquerque.
Na maioria das crianças afetadas pela toxoplasmose, as sequelas são tardias e, sem tratamento adequado, muitas podem desenvolver problemas como:
- Complicações neurológicas
- Surdez
- Cegueira
- Atraso no desenvolvimento
- Problemas renais
- Problemas Hepáticos
- Retardo mental.
Como prevenir a toxoplasmose na gravidez
A prevenção da infecção materna também é possível através de hábitos de higiene e manutenção de uma alimentação adequada. Alguns desses hábitos incluem:
- Não comer carne crua ou mal passada;
- Dar preferência às carnes congeladas;
- Não comer ovos crus ou mal cozidos;
- Beber água filtrada;
- Usar luvas para manipular alimentos e carnes cruas;
- Não usar a mesma faca para cortar carnes, vegetais e frutas;
- Lavar bem frutas, verduras e legumes;
- Evitar contato com tudo que possa estar contaminado com as fezes de um gato, como latas de lixo ou areia. Se o gato for doméstico, utilizar de luvas para manusear sua caixa de areia;
- Alimentar gatos domésticos com rações comerciais;
- Sempre realizar a limpeza de recipientes em que gatos depositam suas fezes.
Gestantes imunocompetentes não precisam realizar novos exames posteriormente. Já gestantes suscetíveis devem realizar a sorologia mensalmente a fim de verificar possível soroconversão.